Leituras: Mateus 18:15-17 / Apocalipse 3:19.
Desde Gênesis até Apocalipse vemos que o nosso Deus é Deus de ordem. Seja com o
Seu povo Israel ou com a sua Igreja na terra, Ele tem revelado um padrão para o
comportamento do Seu povo. Este padrão é para o nosso bem e para o bem da Sua
obra na terra e se um de seus filhos desviarem-se desta ordem, Deus o corrige.
É
notável que na primeira referência em o Novo Testamento sobre a Igreja local
(Mt 18:15-17), e também na última (Ap 3:19), o assunto é sobre a necessidade de
disciplina na Igreja local. Mesmo quando os apóstolos estavam na terra havia
necessidade de disciplina nas igrejas, e esta foi muito severa, como quando
Ananias e Safira morreram em Jerusalém por causa da sua mentira (At 5:1-11).
Deus não tolera pecado na igreja. Também nas cartas de Paulo há muito escrito
sobre este assunto. Mesmo Tessalônica, que foi chamada de “modelo para todos os
crentes da Macedônia e da Acaia” (I Ts 1:7) tinha problemas também (I Ts 5:14 e
II Ts 3:6).
Destas considerações podemos concluir que este assunto, embora pesado, é muito
importante e por isto vamos estudar o que as Escrituras nos ensinam, fazendo
algumas perguntas e procurando as respostas bíblicas.
O que é disciplina?
A palavra “disciplina” vem da palavra grega que quer dizer “uma mente sã”.
Assim “disciplinar” quer dizer “consertar os pensamentos” da pessoa que não
está pensando certo de forma a corrigir a sua atitude e colocá-la no caminho
certo. Deus quer que seus filhos pensem e ajam conforme a Sua ordem. Deve ser
claro que o elemento principal na disciplina não é o castigo. “Geralmente este
processo traz tristeza e dor, mas depois, quando a lição é entendida, traz
alegria e ‘fruto pacífico” (Hb 12:11).
Há pelo menos três tipos de disciplina mencionada na Bíblia:
Disciplina
Divina, onde Deus mesmo corrige os Seus filhos pessoalmente (At 5:1-11).
Disciplina Própria, onde nós mesmos corrigimos as nossas atitudes erradas (I Co
11:31)
Disciplina no Lar, onde os pais corrigem seus filhos (Ef 6:4).
Por que a disciplina na igreja é necessária? Há três razões principais:
a) Infelizmente nem sempre usamos a disciplina própria nas nossas vidas. Às
vezes, por falta de conhecimento da Palavra de Deus, ou por falta de cuidado em
obedecer ao que temos aprendido, caímos em pecado. Assim a disciplina da Igreja
chama a atenção do pecador ao seu caminho errado e o ajuda a deixar o pecado e
ser restaurado à ordem de Deus.
b) Se o pecador não for corrigido com certeza outros também vão cair no mesmo
erro. “não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” ( I Co 5:6; Gl
5:9). A disciplina é necessária para ensinar a outros sobre a necessidade de
santidade na igreja (At 5:11).
c) Deus não pode abençoar Seu povo coletivamente quando há pecado no meio. Acã
causou prejuízo para todo o povo de Israel quando pecou ( Veja Js7). A disciplina
purifica a igreja na presença de Deus.
Quem aplica a disciplina na Igreja?
Em primeiro lugar o Senhor Jesus Cristo disciplina a igreja. É pela Sua Palavra
que a igreja local aplica a disciplina (I Co 5:4). É um ato solene feito em o
Nome do Senhor Jesus pela liderança agindo em favor da igreja (Gl 6:1). Em
casos graves onde a pessoa merece ser separada da comunhão, esta triste notícia
é dada à igreja reunida, mesmo na ausência do infrator. Discernimento é
necessário aqui para evitar escândalo, porque é um assunto somente para os
ouvidos da igreja. Pais não devem falar abertamente em casa perante os seus
filhos sobre estes assuntos.
Quando deve ser aplicada a disciplina?
É
absolutamente necessário que haja CERTEZA dos fatos do caso. Nada pode ser investigado
até que haja pelo menos duas testemunhas (Mt 18:16; I Tm 5:19). Geralmente as
aparências são enganosas (Jo 7:24) e não podemos agir em disciplina sem que
haja fatos concretos sobre os pecados cometidos. Satanás é o “acusador dos
irmãos” e às vezes a liderança da igreja sofre seus ataques neste sentido.
Quando há certeza do caso que merece disciplina não deve haver demora em
aplicá-la. Isto tem de ser feito sem parcialidade, seja presbítero, filho de
presbítero, diacono, pastor, ou qualquer outra pessoa (I Tm 5:21).
Quais são os casos que precisam disciplina?
Assim como existem muitas doenças físicas que precisam de tratamento
diferenciado, assim também acontece neste assunto. Cada caso deve ser
considerado e disciplinado como a Bíblia ensina.
a) Casos merecendo a separação da comunhão. Esta é a disciplina mais
severa e somente deve ser aplicada em casos gravíssimos. São três estes casos:
1) Recusar reconhecer o erro de ofensa a outro irmão (Mt 18:15-17).
Notamos os três passos. O irmão ofendido visita quem o ofendeu e procura
resolver o problema entre eles. Se não houver reconhecimento do erro, ele volta
trazendo duas testemunhas. Se ainda não for reconhecido o erro, o caso é levado
publicamente perante a igreja e a pessoa é colocada fora da comunhão até que
reconheça o erro.
2) Imoralidade, Avareza, Idolatria, Maledicência, Bebedeira, Roubo (I Co
5:11). Estes pecados são disciplinados quando há provas de ATOS COMETIDOS.
Alguns destes casos, como avareza, idolatria e maledicência são mais difíceis
para provar, mas devem ser tratados.
3) Blasfêmia (I Tm 1:20). “Entregar a Satanás” é colocar fora da
comunhão da igreja (I Co 5:5). “Blasfêmia” é ensinar doutrina errada sobre a
pessoa e Obra do Senhor Jesus Cristo. Isto não se refere a pessoas que têm
diferentes idéias sobre assuntos secundários.
b) Casos não merecendo a separação da comunhão. Felizmente a maioria dos
problemas não precisam de separação da comunhão
1) Tropeço (Gl 6:1). Neste caso o pecado não foi planejado e não era
costume da pessoa agir assim. Muitos novos convertidos tropeçam por falta de
conhecimento da Palavra e precisam de conselhos da liderança da igreja.
2) Dúvidas sobre doutrina (Jd 16-23). Certas pessoas ouvindo vários
ensinos em outros lugares revelam dúvidas sobre a doutrina. Estas pessoas não
são falsos ensinadores, mas precisam de compaixão e esclarecimento.
3) Desordenado ( II Ts 3:6-14). Esta pessoa intromete na vida de outros;
ou não quer trabalhar para ganhar a sua vida material; passa muito tempo nas
casas dos outros falando o que não deve; usa a Palavra publicamente para atacar
outros. Toda a igreja deve mostrar que não está gostando do seu comportamento e
não deve dar oportunidades para ele.
4) Repreensão Pública ( I Tm 5:20). Esta disciplina é mais forte e séria
no caso de alguém que continua nos erros já mencionados depois de ser avisado
pela igreja. A referência pode ter aplicação especial aos presbíteros, mas
serve para todos.
5) Homem faccioso (Tt 3:10-11). Esta pessoa quer sempre dominar a
igreja. Exige coisas sem base na Palavra de Deus. Facilmente faz “greve” quando
não consegue o que quer e procura levar outros para o seu lado. Ele deve
receber até dois avisos da liderança da igreja e, se continuar, toda a igreja
deve unir e mostrar que não tolera seu comportamento. Com isto, ou ele se
retira, ou muda seu comportamento.
6) Quem causa divisão (At 20:29,30; 16:17-20). Às vezes pessoas carnais
usam a comunhão da igreja para carregar discípulos atrás de si, visando formar
outro trabalho onde possam ser preeminentes. São lobos disfarçados e muito
perigosos, por isto são servos de Satanás. A igreja deve afastar-se deles que,
não recebendo atenção, pararão de causar divisão e vão embora.
A Restauração dos Pecados (II Co 2:5-11; II Co 7:9-12).
Um dos motivos principais da disciplina é sempre a restauração. Por isto deve
sempre ser aplicada num espírito de amor e de humildade. No caso de um irmão
afastado da comunhão, a igreja o observa querendo ver sinais de arrependimento
e mudança de atitude. Quando ele demonstrar esta mudança a igreja deve
recebê-lo de volta à comunhão.
Notamos que este tempo é decidido pela igreja e não por quem foi disciplinado.
Em outros casos menores a disciplina aplicada deve logo produzir melhora no
comportamento e mostrar que houve restauração completa.
Comunhão entre as Igrejas Locais
Embora uma
igreja local não tenha parte na disciplina de alguém de outra igreja, este
assunto pode afetar outras igrejas. Às vezes a pessoa não aceita a disciplina e
procura mudar para outra igreja. Cartas de recomendação são necessárias e
alguém em disciplina não deve ser recebido logo por outra igreja. Pode ser
necessário comunicação entre as lideranças. No caso de igrejas novas e que
ainda não tenham presbíteros, seria melhor buscar ajuda de irmãos
reconhecidamente maduros e respeitados para cooperar. É melhor do que
administrar uma disciplina erradamente.
Que Deus possa purificar a igreja e a torne totalmente, santa, sem ruga,
sem mácula ou coisa semelhante !.
Amém.
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