sexta-feira, 9 de março de 2012




1. Construindo uma Vida Duradoura

O Pregador acabou de pregar seu Sermão, e seu convite à ação, já começado, está agora concluído. O caminho bifurcou-se continuamente, ao longo do discurso: dois tipos de justiça, dois tipos de tesouro, uma estrada larga ou uma estreita, hipocrisia ou simplicidade, este mundo ou o próximo, nossa vontade ou a de Deus. A escolha foi clara e fortemente delineada.
Não é parecer bom, ou mostrar-se piedoso, ou fazer "algo maravilhoso" em nome de Jesus que leva alguém ao reino de Deus. É obediência. Obediência como expressão de absoluta confiança. Em seu apelo conclusivo, o Senhor já pintou dois quadros para ilustrar este fato. Ele agora dá a seus ouvintes o terceiro e último.

"Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína" (Mateus 7:24-27).

Os Dois Construtores. Nestes versículos, o Senhor apresenta-nos dois construtores. Podemos descobrir a diferença entre eles observando as similari-dades. Ambos tinham o mesmo desejo: construir uma casa, um lugar para viver, um lugar de abrigo e segurança. Ambos construíram sua casa e, se as duas eram diferentes, não é mencionado. Ambas as casas foram postas à prova pela mesma tempestade. Por fim, a única diferença discernível nestes dois construtores e suas casas é o alicerce sobre o qual escolheram construir: um, sobre a rocha, o outro, sobre a areia. E, antes do dilúvio cair, ambos os homens pareciam ter tido sucesso admirável.

A história sugere que, qualquer que seja a casa, todos os homens estão procurando construí-la. Poderia ser chamado "sucesso", "felicidade," "paz de espírito" ou "realização". Ela representa as aspirações comuns do coração humano, aspirações que não são necessariamente erradas em si mesmas, mas uma parte da maneira como Deus nos fez. ". . . pôs a eternidade no coração do homem" (Eclesiastes 3:11).

Os diferentes fundamentos representam o modo pelo qual tentamos realizar nosso desejo de felicidade. Quanto à opinião do Filho de Deus, há somente dois fundamentos sobre os quais podemos repousar nossas aspirações para a máxima realização: submetendo-nos a sua vontade, ou rebelando-nos contra ela. A primeira casa permanecerá, a segunda cairá.

Os Dois Fundamentos. O construtor prudente levou tempo para escavar um apoio sólido (Lucas 6:48). Foi trabalhoso e tomou tempo, mas sua casa e todo o seu esforço, até mesmo sua própria vida, estavam em jogo. Ele pensou no futuro e considerou mais do que os céus ensolarados do presente. Foi para a tempestade inevitável que ele construiu.

O insensato construiu para o momento presente, sem ser previdente. Tudo o que pudesse ser feito com pouco esforço e conseguir resultados rápidos o atraíam. Ele supôs que, como as coisas eram, assim sempre seriam. A idéia de que sua casa pudesse ser severamente posta à prova parece que nunca entrou em sua cabeça. Ele, sem dúvida, tinha levantado e mobiliado sua casa antes que seu vizinho lutador sequer tivesse concluído seu fundamento
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Construindo Antes da Tempestade. É importante perceber que, na história de nosso Senhor, há um tempo quando quaisquer diferenças entre estes dois construtores serão difíceis de ver. Ambos parecerão ter tido bom êxito, com as casas firmemente estáveis, em pé. De fato, o insensato, tendo-se poupado tantas durezas, pode parecer mesmo ter levado a melhor. E é no meio deste tempo, antes da tempestade, que temos que decidir como construir nossas casas espirituais. Certamente, será bastante fácil ver a diferença depois da tempestade, mas aí será tarde demais para adiantar alguma coisa. É agora, no sossego antes do cataclisma, que temos que agirpela fé. Temos que nos preparar para o dilúvio antes de chuva. Temos que fugir de Sodoma antes mesmo do primeiro sinal de tempestade de fogo.

Para o olhar distraído, a diferença prática entre os filhos de Deus e os filhos deste mundo será difícil de ver. Ambos sofrerão problemas, conhecerão decepções, cairão doentes e morrerão. Por esta razão, as pessoas de mente leviana sempre lutarão para ver a distinção entre a verdadeira justiça e a hipocrisia farisaica, entre a estrada estreita e a larga, entre o verdadeiro profeta e o zeloso impostor. Esta é a razão pela qual uma atitude de humildade e honestidade é tão vital para aqueles que querem sobreviver à tempestade do divino julgamento. Temos que ter a mansidão de espírito que nos capacitará a ver-nos a nós mesmos como somos, e o Filho de Deus, como ele é.

Está chegando o dia quando as diferenças que tendem a escapar à atenção daquele que não pensa serão claramente evidentes. Falando desse dia de ajuste de contas, em sua explicação da Parábola do Joio, Jesus promete que "Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai" (Mateus 13:43). Mesmo o mais cego dos homens verá, então, a diferença. Precisamos dos olhos para vê-la agora e, conseqüentemente, acertar nossas vidas.

A Rocha Inabalável
Em suas derradeiras palavras (Mateus 7:24-27), com uma notável ausência de qualquer coisa pomposa ou adornada (isso não teria servido ao estilo do Mestre ou do seu Sermão), Jesus insiste com seus ouvintes para que considerem ponderadamente as conseqüências da resposta que escolherem dar-lhe. Indiferença e neutralidade não são uma opção. Todos os homens construirão. A única questão que fica é: onde? Ele confronta o ouvinte diretamente, não deixando nenhum espaço para manobra. Submeter-se-ão eles a sua vontade e farão o que ele diz ou não? A escolha é deles, mas é uma escolha radical, com repercussões radicais.

O assunto, através do Sermão, foi a obediência. A voz que fala não é simplesmente a voz da verdade e da sabedoria, mas a voz da autoridade e do poder. A submissão tem que ser tanto ampla como profunda, tão ampla como seu menor mandamento (Mateus 5:19-48) e tão profunda como nossos mais íntimos pensamentos (6:1-34).

E a quem estas palavras são especialmente dirigidas? Não aos ateus e aos publicanos, pois eles quase não receberam atenção neste grande discurso. O "pois" com o qual Jesus inicia este último ponto de seu Sermão nos diz que ele está tirando uma conclusão do que acabou de dizer sobre os pseudo-profetas e os falsos mestres (7:15-23). Estas palavras, como na verdade todo o Sermão, são dirigidas àqueles que fazem uma simulação do discipulado. Elas confrontam esta religiosidade superficial oferecida como um substituto para a obediência que estava então atormentando a nação de Israel, e está fazendo devastação em nosso tempo. O "homem prudente" não é o homem que ouve estas palavras e as compreende, nem mesmo o homem que ouve e crê no Filho de Deus. As pessoas, a quem o Senhor estava se dirigindo, já tinham ouvido e "crido", e até certo ponto, entendido, mas a questão em torno da qual tudo girava era se eles tinham obedecido. Não há nada que este Sermão ataque profundamente mais do que a constante citação de João 3:16, daqueles que diligentemente evitam o estudo e a prática da própria palavra daquele em quem professam crer. 

Naturalmente, o fato que este Sermão e estas palavras em particular, são dirigidos especialmente aos falsos discípulos, não significa que elas não têm aplicação àqueles que não fazem o menor fingimento de seguir a Jesus. Seja um simulador ou um salafrário, as conseqüências da rebelião são as mesmas. Areia é areia.

A Rocha Inabalável. O homem prudente, disse Jesus, é o homem que ouve a palavra do céu e a atende, sem perguntas, sem desculpas. Por causa de uma fé obediente, seu relacionamento com o Pai e o Filho é tão inabalável como uma enorme jazida de pedra (Grego petra) numa tempestade. O Filho de Deus deu a mesma segurança em Jerusalém, no mês de dezembro, antes que ele morresse, quando ele disse de suas "ovelhas" que "me seguem" e "ouvem a minha voz" que "ninguém as arrebatará da minha mão" (João 10:27-29). Paulo repetiu Jesus quando ele assegurou aos romanos que, quanto aos que amam o Senhor e são chamados de acordo com seu propósito, nada os separará "do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 8:38-39). É a "obediência da fé" (Romanos 1:5; 16:26), como um vivo e constante princípio de vida que nos une ao Salvador dos homens, numa união inquebrável. Conforme Isaías prometeu, o Senhor Deus lançou seu fundamento em Sião, uma "pedra preciosa, angular, solidamente assentada" e "aquele que nela crê não será confundido" (Isaías 28:16; Romanos 9:33).

É importante lembrar-nos de novo, neste ponto, que Jesus não está lidando aqui com a base de nossa salvação (graça), mas com a natureza da fé que responde a ele. Tiago está apenas repetindo o Sermão da Montanha quando ele nos adverte para que sejamos "praticantes da palavra, e não somente ouvintes" (1:22) e declara que a "fé, se não tiver obras, por si só está morta . . ." (2:17-26). Por que agir como se Tiago fosse um inovador, aqui? Foi Jesus quem primeiro pregou este princípio e ele o fez no "evangelho do reino" (Mateus 4:23). Esta verdade básica precisa desesperadamente ser levada a sério. Aqueles que se tornaram tão fascinados com a salvação pela graça que esvaziaram a fé de todo conteúdo, precisam perceber que estão brincando, não com a inconveniência, mas com a destruição. Há abundância de misericórdia para cada alma que se submete ao domínio de Cristo de todo o coração: Seu coração se partirá e voltará a Deus a cada transgressão; mas não haverá nenhuma compaixão para aqueles que, orgulhosamente, determinarem que a graça tornou os mandamentos do Senhor do reino sem nenhum efeito.

Rocha ou Areia?
Jesus chamou para obediência à sua Palavra, que é tanto profunda como abrangente, mas isso não é um convite à justificação pelas obras de justiça. Ele insiste para que os cidadãos do reino procurem a perfeição do amor sem egoísmo do Pai deles (Mateus 5:43-48), mas diz francamente que eles ainda precisarão se arrependerem de seus erros (5:23) e procurar a misericórdia (5:7). Na ocasião de sua morte, quando Jesus recomenda os Doze ao seu Pai, como homens que guardaram "tua palavra" (João 17:6), ele não está dizendo que eles ficaram sem pecado desde que se tornaram seus discípulos (a história deles prova o contrário), mas que sua dedicação a ele foi autêntica e sua penitente tristeza por seus pecados pura.

Aqueles que constroem suas vidas sobre "a rocha" estão dizendo duas coisas: que estão determinados a manter a palavra de Cristo a todo o custo, e que estão confiando em seu sangue redentor para a misericórdia por seus fracassos. A obediência, no reino do céu, nunca foi um meio de justificação do pecado, mas um modo de exprimir fé (Tiago 2:14-26) e amor (João 14:15,21,23; 15:10,14). Se há algum outro modo de demonstrar estas duas indispensáveis qualidades da vida do reino, ele é desconhecido pela Escritura.

A despeito da clareza da escolha que o Senhor pôs diante dos seus ouvintes, há sempre aqueles que querem construir sobre a areia e chamá-la de rocha. Eles estão à procura de soluções rápidas e fáceis para seus problemas e um caminho fácil para a justiça e a paz. São tais mentes que tendem a voltar as igrejas do Senhor para uma mensagem mais popular e aceitável, uma que apara as arestas duras das exigências do evangelho e põe no seu lugar remédios psicológicos que não machucam, e não têm força. Em vez de um chamado penetrante para um coração renascido, só há intermináveis falatórios sobre "atitudes mentais positivas", "amor próprio" e "auto-aceitação". Um sentido de valor próprio e um espírito positivo não são assuntos de pouca conseqüência, porém não serão conseguidos procurando-se-os por si mesmos. Eles são o sub-produto natural da penitente procura de Deus e de sua vontade e a conseqüente certeza de aceitação em sua graça (Atos 10:34; 2 Coríntios 8:12; Efésios 1:6-7).

A perda do amor próprio vem mais freqüentemente do fracasso em procurar o Senhor sincera e obedientemente. É duro para uma pessoa olhar-se no olho quando ela sabe que não está sendo autêntica para com Deus. A verdadeira graça de Cristo traz submissão e segurança. Graça barata e sem exigência serve só para enganar o superficial.

É estarrecedor que este grande Sermão, com sua tremenda ênfase em entender e obedecer aos mandamentos de Deus, não tenha um grande impacto na mente cristã popular. Talvez a razão para isto repouse na idéia, largamente aceita, que desde que não estamos sob a lei, mas sob a graça (Romanos 6:14), os mandamentos de Cristo são meras orientações (graça), enquanto os mandamentos de Moisés eram estatutos para ser estritamente obedecidos (lei). Que isto é uma perversão do que disse Paulo torna-se evidente com a admirada pergunta que segue sua afirmação sobre a graça e a lei: "Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei e, sim, da graça? De modo nenhum" (6:15). A verdade é que Deus nunca, desde Adão, emitiu um mandamento que ele não esperasse que fosse obedecido. Sua vontade surge de sua natureza cheia de graça e justiça e é "para o nosso perpétuo bem" (Deuteronômio 6:24; 1 João 5:3).

A graça de Deus não é sem lei. O evangelho é simplesmente um sistema de graça (onde há perdão por transgressões da lei de Deus) em oposição a um sistema de lei (onde não há nenhum). Não somente a graça não remove as exigências da lei divina, mas trabalha para atender essas exigências por um sacrifício redentor (Romanos 8:1-4). Sem a lei de Deus, sua graça ficaria sem significado, uma vez que a ausência de lei tornaria o pecado impossível (Romanos 4:5) e o perdão desnecessário.

O homem tem estado sob a lei divina desde Adão, uma lei que se resumia melhor nos mandamentos para amar a Deus supremamente e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22:35-40). Entretanto, essa lei nunca anulou a justificação pela fé, uma redenção tornada possível em todas as gerações por causa do que Deus planejou fazer em Cristo (Hebreus 9:15). O fato que Abel foi justificado pela fé e mostrou essa fé por uma cuidadosa obediência à lei divina, demonstra que a salvação pela graça não altera nossa responsabilidade em obedecer a Deus (Hebreus 11:4). O fato que Noé foi justificado pela fé e manifestou essa fé por uma escrupulosa submissão aos mandamentos divinos, confirma esta mesma verdade (Hebreus 11:7). Os casos de Abraão (Hebreus 11:8-9,17-19) e Moisés (11:25-27) acrescentam mais evidência.

Se, então, a justificação pela fé, em eras passadas, não removeu a necessidade de obedecer aos mandamentos, conforme dados por Deus, a mesma necessidade tem que governar na era do evangelho. A graça de Deus em Cristo não nos livra da necessidade de obedecer ao Senhor, mas nos capacita a obedecer a ele sem medo de julgamento. E, por este mesmo meio, somos não só perdoados, mas transformados (Romanos 8:1,29). Esta é a mensagem do Sermão da Montanha. O Pregador nos deixou entre a rocha e a areia, entre a confiança obediente e a rejeição infiel, e nos desafiou a escolher.


Estudo aplicado há 2 anos atrás, não recordo da fonte (Texto adaptado)

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